Escaras
Escaras
Es. ca. ras
substantivo feminimo, plural
Crostas que se formam nas paredes, sobre as feridas, pela especulação dos tecidos da cidade (derma, aponeurose, memória, telhados, músculos).
Do grego 'eschára'
Desenhos em nanquim e aquarela sobre papel, da cidade exposta em cicatrizes de casas que deixaram de existir para dar lugar a vazios de espaço e memória.
Busquei registrar, com essses desenhos, os resquícios das demolições das casas de São Paulo, cuja causa principal é a especulação imobiliária. São marcas nas paredes de construções que já não existem mais e que permanecem visíveis aos nossos olhos por essas “cicatrizes” urbanas: azulejos de antigos banheiros, marcas de divisões das casas, do telhado e das escadas.
Esses desenhos representam um lapso do tempo, entre o que já foi e o que ainda será, e também uma lacuna na memória do que ali existia. Aquelas superfícies que repentinamente ficam expostas aos olhos dos transeuntes são carregadas de lembranças para as pessoas que ali viveram e que hoje são resignificadas.
Podemos usar o conceito de “rugosidade”, do geógrafo Milton Santos, para caracterizar essa coexistência no presente de elementos de outros períodos de tempo, cujas finalidades específicas eram distintas das atuais. Assim, as antigas casas estão marcadas nos muros de terrenos que hoje deram lugar a estacionamentos ou a vazios que serão, com o tempo, transformados nos novos empreendimentos imobiliários.